Podemos Conversar?


– João, vamos conversar?

– Agora?

– Sim, agora, se possível.

– Receio que não seja coisa boa. Quando me vens com esse pedido antecipo algo sério.

– É um lugar comum. Como se conversar não fosse o que de mais fascinante existe na relação humana, como se não fosse isso que melhor e de forma mais evidente nos distingue dos outros seres.

– Concordo, Sofia.

– Então, podemos ou não conversar?

– Vamos lá, embora já o estejamos a fazer. Qual o tema então?

– O tema é esse.

– Hein? Estás a deixar-me confuso.

– Conversar. Temos que conversar sobre o facto de não conversarmos.

– Muito bem. Porquê isso agora?

– Creio que a nossa relação está a ser prejudicada por essa ausência de diálogo na medida em que as nossas possíveis angústias, frustrações, debilidades, receios, conflitos interiores... Enfim... não estão a a ser trabalhadas através da partilha. Há uma terapia de casal que todos os dias podemos colocar em prática se conversarmos, sobre nós e sobre o que cada um sente.

(Silêncio)

– Compreendo.

– Então, façamos esse esforço. Podemos ser melhores, a nossa relação pode a partir daí sair reforçada.

– Se tu o dizes, tentarei fazê-lo, tentarei estar mais atento a uma possível carência na nossa comunicação enquanto casal.

– Que bom. Fico feliz que tenhas entendido o meu ponto de vista. É precisamente isto que acabei de fazer que teremos que fazer mais vezes. Estarmos prontos para nos ouvirmos um ao outro, respeitarmos as nossas opiniões, assimilarmos e dar uma boa resposta, em conformidade.

– Sem dúvida, tens razão.

– Então, como te tens sentido esta última semana? Sinto-te um pouco distante. É o trabalho?

– Desculpa Sofia. Agora tenho que ir levar o cão a passear. Está bem? Depois falamos. Até já.

– Até já.

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